terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Dar a jeira

Martim
Martim


Martim



Dar a jeira é trabalhar no campo com pagamento diário. Dei muitas vezes a jeira, todos lá em casa deram. Os meus pais não tinham salário, trabalhavam nas poucas terras que tínhamos e trabalhavam à jeira para outros que precisavam; era assim que conseguiam ganhar algum. Quando tivemos idade, a partir dos 12, 13 anos começamos a ir trabalhar também à jeira, principalmente nas grandes ceifas, como apertar e enrolar pampos (rebentos de videiras), vindimar e apanhar azeitona. Era para a “casa grande” que trabalhávamos; uma casa no meio da aldeia, que sempre teve caseiros e a quem pertenciam a grande maioria das terras, (prédios, como lhe chamamos em Martim). O que era agradável nestas alturas é que ia muita gente, novos e velhos, alguns colegas de escola que precisavam mais, como nós. Na apanha da azeitona, as raparigas mais velhas juntavam-se mais para conversar e as mais novas ficavam por trás a apreciar tudo. Lembro-me uma vez que uma até levou a letra de uma canção em inglês escrita na mão para não se enganar; cantava bem. Outra vez na vindima, quando estava quase a acabar o dia, juntamo-nos todos no fundo da vinha e os que já tinham acabado o valado (cordão de videiras) ajudavam aqueles que ainda estavam para trás; foi então que ao ajudar um senhor, comecei a cortar uvas pela parte de cima e lhe apanhei um dedo, o sangue começou a esgrichar e ele teve de ir embora, disse que podia ter acontecido mais cedo, que no final do dia já pouco valia a pena; eu fiquei sem saber onde me meter. Dos trabalhos que gostava mais era de apertar e enrolar os pampos, além de se andar de costas direitas é um trabalho que se fazia nos meses de Junho e Julho. Levantávamo-nos de madrugada e lá íamos nos ainda meio adormecidas, com um chouriço no bolso para comer a meio da manhã se nos desse a fome. O trabalho começava às 5h30, ainda com as folhas molhadas do orvalho e acabava às 9h30; apreciávamos o nascer do sol e as conversas dos mais velhos. Às vezes voltávamos de tarde mais quatro horas.

2 comentários :

Sandra disse...

Ola! Nao gostava nada de ir a jeira, mas o que ainda gostava mais de fazer era apanhar azeitona. Embora as vezes tenha saudades desse tempo, das jeiras nao tenho saudades nenhumas!! Um grande beijinho.

zeza disse...

Beijinhos pra ti também. Sempre foste a mais mimada, talvez por seres a mais nova.