terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A minha sala...


O meu quarto foi sempre na sala. A porta da rua dava entrada na cozinha que era espaçosa e esta tinha uma porta que dava para a sala e para dois quartos pequeninos. Um era do meu pai e da minha mãe o outro das duas irmãs do meio, a sala era para mim e para a mais nova; atrás da porta a minha mãe pôs um divã que abria todas as noites e fechava de manhã. (antes disto não me lembro bem). O que sei é que quando tivemos televisão ela foi directamente para o meu quarto, que alegria! Nem importava que ele fosse invadido por todas, assim como o divã… Não víamos tudo o que nos apetecia porque como éramos mazinhas umas para as outras o meu pai resolvia ser mauzão connosco. Lembro-me que a primeira serie policial que segui foi “Dempsey and Mqkepeace”, 1985-86, não sei descrever como conseguia ficar com os olhos pregados no ecrã sem pestanejar, era quase como se entrasse no episódio e vivesse tudo com eles; foi a primeira vez que participei num beijo e nunca mais esqueci a sensação; sabem aquilo que se sente quando se vive intensamente independentemente de tudo? Devem perceber o que digo. A minha mãe dizia que eu saía de mim sempre que via televisão que parecia mesmo uma grola. No dia do último episódio da série o meu pai pôs-nos de castigo. Nem queria acreditar! Como era possível? Fiquei doente, quase para morrer. Não podia ser! Mas a verdade é que ele se foi deitar e tirou a ficha que ligava a televisão à única tomada da sala, mesmo em frente ao quarto dele. A minha mãe deitou-se também, ainda lhe pedi para me dar a ficha, consegui ler-lhe pena no olhar mas ela disse que não; no entanto fechou a porta do quarto. Lembrei-me então de puxar a mesa de jantar para perto da tomada e levar para lá a televisão, tudo no mais profundo silêncio, só se ouvia o meu coração a bater. As minhas irmãs tiveram medo e não me acompanharam. O medo que senti foi mais forte do que as emoções desse último episódio; mas quando me vi deitada no meu divã com tudo no lugar sem ter sido apanhada revivi tudo no pensamento e senti tudo intensamente. Só há três ou quatro anos atrás é que contei ao meu pai. Ficou furioso! Imaginem se me tivesse apanhado!

3 comentários :

Sandra disse...

Eu lembro-me!! Tambem vi o tal episodio, pois como tu, o meu quarto também era a sala!!! E como tu, tambem eu adorava a tal série. Bjs.

Anónimo disse...

Ai que malandra!

Bj,

Susie de Sonho.

Anónimo disse...

Por esta e por outras nunca me agradaram as promessas. Prometi(!) a mim mesmo nunca lhe falhar a visita, mas a voltas e contra voltas da vida nem sempre nos deixam virar para onde sabemos ser o nosso bom porto de abrigo...
Consegui voltar, o importante.
Parecia ter passado uma eternidade. O que iria encontrar?...
Muito bonito. A mesma dose de originalidade, carinho, AMOR.
"Independentemente de tudo", continuo a "viver intensamente" os sentimentos que põe nas suas histórias. Histórias que são muito mais que isso. Histórias que são uma ALMA. A de quem é capaz de as contar...assim.
BOM 2012, "independentemente de tudo"