sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Lavar os cobertores






 Estou quase sempre a falar de lavar no rio, talvez porque passássemos mesmo muito tempo a lavar no rio. Além da nossa roupa a minha mãe também chegou a lavar a roupa de mais duas casas lá de Martim e nós ajudávamos. Entre tantas lembranças boas desses momentos aquele que me lembro sempre com mais saudade era de quando íamos lavar os cobertores das camas no inicio do verão. Íamos sempre muito cedo, por volta das 5h da manhã; ainda mal se via o dia e já nós íamos todas com as trouxas à cabeça (o Saroto também chegou a ir carregado de cobertores, lembrei-me agora). Mal chegávamos ao rio, ainda meio a dormir, deitávamo-nos no meio dos cobertores enquanto a minha mãe ia lavando um a um, quando chegava aos últimos era quando nós acordávamos. Bebíamos então a cevada já quase fria que ela levava numa garrafa embrulhada numa rodilha e comíamos pão com manteiga, era o melhor dos manjares! Ajudávamos depois a estender os cobertores para secarem e não pesarem tanto quando fossemos para casa. Enquanto secavam era a hora da brincadeira e do banho; íamos para a fraga das raparigas (pedregulho enorme numa das extremidades do rio) de onde saltávamos e mergulhávamos, e era preciso que a nossa mãe nos chamasse muitas vezes até que saíssemos de lá. O regresso a casa era o mais doloroso, depois de toda a energia gasta tínhamos que levar a trouxa dos cobertores, quando chegávamos a casa e a tirávamos a nossa cabeça fazia lembrar a de uma tartaruga a sair da casca.

3 comentários :

Anónimo disse...

Delicio-me com as tuas recordações de infância. Enfim adoro o teu blogue! Ainda bem que te decidiste a criá-lo.

Bj,

Susie de Sonho.

Inês disse...

Tao nito. Senhora Dona minha mae tenho que lhe dizer que estou orgulhosa de si (e de mim) e do seu lindo lindo blog (graças à minha gerencia). kissa

Anónimo disse...

Estar aqui e sentir o cheirinho daquele arroz de pimentos, feito com a sabedoria e a dedicação de quem nos ama.
Estar aqui e devorar aquele pão com manteiga regado a cevada pouco quente mas que reconfortava como nenhuma outra.
Estar aqui e sentir o trabalho que as coisas davam a fazer.
Estar aqui e sentir a inocência dos primeiros dias.
A alegria de brincar. O prazer imenso de ter um burrinho simpático e trabalhador.
O meu avô também sempre teve burrinhos simpáticos e trabalhadores. Teimosos como ninguém!!
Obrigado pelas suas viagens.