quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Vive-se para a aparência





"A minha mãe ainda está viva, mas ele vai matá-la na Sexta-Feira Santa à meia-noite"





Indiana e Amanda Jackson sempre se apoiaram uma à outra. No entanto, mãe e filha não poderiam ser mais diferentes. Indiana, uma bela terapeuta holística, valoriza a bondade e a liberdade de espírito. Há muito divorciada do pai de Amanda, resiste a comprometer-se em definitivo com qualquer um dos homens que a deseja: Alan, membro de uma família da elite de São Francisco, e Ryan, um enigmático ex-navy seal marcado pelos horrores da guerra.

Enquanto a mãe vê sempre o melhor nas pessoas, Amanda sente-se fascinada pelo lado obscuro da natureza humana. Brilhante e introvertida, a jovem é uma investigadora nata, viciada em livros policiais e em Ripper, um jogo de mistério online em que ela participa com outros adolescentes espalhados pelo mundo e com o avô, com quem mantém uma relação de estreita cumplicidade. Quando uma série de crimes ocorre em São Francisco, os membros de Ripper encontram terreno para saírem das investigações virtuais, descobrindo, bem antes da polícia, a existência de uma ligação entre os crimes. No momento em que Indiana desaparece, o caso torna-se pessoal, e Amanda tentará deslindar o mistério antes que seja demasiado tarde.

Não acho que seja o melhor dela mas não está mal de todo. Lê-se bem.


domingo, 11 de janeiro de 2015


"Enterrar os mortos, tratar dos vivos e fechar os portos"


"Lisboa, 1775: o Dia de Todos os Santos vai mudar a vida de 5 pessoas para sempre"





Lisboa, 1 de Novembro de 1755. A manhã nasce calma na cidade, mas na prisão da Inquisição, no Rossio, irmã Margarida, uma jovem freira condenada a morrer na fogueira, tenta enforcar-se na sua cela. Na sua casa em Santa Catarina, Hugh Gold, um capitão inglês, observa o rio e sonha com os seus tempos de marinheiro. Na Igreja de São Vicente de Fora, antes da missa começar, um rapaz zanga-se com a sua mãe porque quer voltar a casa para ir buscar a sua irmã gémea. Em Belém, uma ajudante de escrivão assiste à missa, na presença do rei D.José. E, no Limoeiro, o pirata Santamaria envolve-se numa luta feroz com um gangue de desertores espanhóis. De repente, às nove e meia da manhã, a cidade começa a tremer. Com uma violência nunca vista, a terra esventra-se, as casas caem, os tectos das igrejas abatem, e o caos gera-se, matando milhares. Nas horas seguintes, uma onda gigante submerge o Terreiro do Paço, e durante vários dias incêndios colossais vão aterrorizar a capital do reino. Perdidos e atordoados, os sobreviventes andam pelas ruas, à procura dos seus destinos. Enquanto Sebastião José de Carvalho e Melo tenta reorganizar a cidade, um pirata e uma freira tentam fugir da justiça, um inglês tenta encontrar o seu dinheiro, e um rapaz de doze anos tenta encontrar a sua irmã gémea, soterrada nos escombros.

 
"Mentiria se dissesse que sei como sobrevivemos àquela onda descomunal que nos abraçou no Tejo. Não sei. Nem sei quanto tempo passou. Só vi água e espuma e mais água, um turbilhão louco e enraivecido à nossa volta, o branco e o castanho daquela maré a transformar a água em lama; água engolida e cuspida; a sensação de quase morrer asfixiado e depois, sem saber como ou porquê, vir de novo à superfície e respirar. Não se vê quase nada nestes instantes alucinantes, e o que se vê não faz sentido, pois nunca sabemos para onde estamos virados. Vi imagens fragmentadas, descontínuas: rastos brancos a chocarem comigo, coágulos de espuma a rodopiarem a uma velocidade impensável; vi breves instantes de céu, duas mãos agarradas à falua, um edifício a passar por mim, uma esquina a fugir-me depressa demais, o convés do nosso pequeno barco a afastar-se e depois, dobrando-se para trás, atirando-se contra nós; vi Muhammed a fechar os olhos, agarrado a mim, a cuspir uma mistela, a tossir, a tentar não sufocar. Mas o mais horrível foi o que senti: a cabeça a andar à roda, solta como um coco que rebola depois de ter caído de uma árvore; o mundo às voltas; o cabo a trilhar-me o braço, as pernas sempre a chocarem contra a madeira, as costas a doerem-me com as pancadas, os pés frios, e depois uma luz intensa a aproximar-se de mim, um barulho tremendo... e pronto, devo ter desmaiado, sei lá eu o que me aconteceu."


"Andei mais uma centena de metros, e subitamente ouvi um enorme estrondo. O Paço caía, como um moribundo que tomba, esgotado de tanto lutar, desmoronando-se, o último vencido daquele gigantesco combate que se travara entre a cidade e a natureza. Resistira aos abalos iniciais, à fúria de três ondas, ao fogo incessante a corroê-lo por dentro, e por fim entregara-se, batido, o símbolo final do colapso daquela metrópole, sobre a qual se dizia: "Quem nunca viu Lisboa, nunca viu coisa boa."
Senti angústia. Então, ajoelhei-me no chão e chorei, soluçando convulsivamente, as lágrimas caindo-me dos olhos sem cessar, uma tristeza infinita a invadir-me o coração. Não chorava por mim, nem pelo meu imprevisível destino, nem pela mulher que amava ou julgava amar, nem pelo meu amigo árabe, companheiro de tantas lutas, que temia ter perdido. Chorava pela cidade, pelo sofrimento que este golpe do destino lhe provocara, aniquilando-a, numa mutilação impiedosa e fatal. Chorava pela perda da Lisboa que eu amava, que fora minha, me vira crescer, ser jovem e cheio de vida, ser homem, e me vira partir para o mar, ir e voltar, e à qual, muitos anos depois de sair pela última vez, regressara preso e humilhado, talvez com o único propósito de assistir ao seu fim, presenciar a sua despedida trágica deste mundo."
 
Muito, muito interessante; o final foi inesperado e surpreendente! ADOREI!