quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O saroto



 

Tivemos um burro, chamava-se Saroto porque não tinha rabo. O meu pai já o comprou assim. Foi muito nosso companheiro, era sossegado, talvez porque já não fosse muito novo. Enquanto viveu connosco acompanhava-nos sempre que íamos para o campo. Na altura de lavrar a terra eu ia com o meu pai (por ser a mais velha) para guiar o Saroto enquanto que o meu pai segurava no arado. Tinha que me despachar e ter cuidado para ele não me pisar os calcanhares. Quando íamos buscar lenha íamos sempre montadas nele e ao vir para casa era sempre uma brincadeira, ele carregado com os molhos de lenha e nós de roda dele; quando era para subir as ladeiras dizíamos que se ele tivesse rabo podíamos puxar por ele para nos ajudar a chegar ao cima. No início do Outono, no fim das vindimas tínhamos que ir buscar folhas de videira para ele comer; levava-mos uns sacos de lona para encher. Da primeira vez foi muito fácil, demora-mos talvez uma meia hora a ir e vir com os sacos cheios. Ao chegar-mos a casa o meu pai olhou-nos com espanto e disse que tinha sido rápido mas ao pegar num dos sacos começou a calcar as folhas que ficaram em nada (como quando se coze nabiças ou espinafres). Tivemos que pegar nos sacos e voltar para a vinha, quando regressamos já tinha caído a noite.

2 comentários :

Sandra disse...

Gosto sempre, mas hoje nao sei porque, adorei o teu texto sobre o nosso burrinho Saroto. Quanto eu nao desejei que ele tivesse rabo para me poder puxar!!! Continua a fazer-me lembrar! BJS.

Cátia disse...

Olá Srª Zeza, achei tão engraçado o texto do burrinho, gostava de ver um assim tão especial sem rabo :)
É tão bom como se relembra de tantas histórias, vou continuando a ler todinhas :)


Beijinhos grandes