quarta-feira, 13 de junho de 2012

Em Padrón




Depois da chegada e de ter tomado banho fui para os dormitórios com a Helena para furarmos com agulha e linhas algumas bolhas e fazer uma massagem aos pés. Enquanto combinávamos sobre o que era preciso comprar para o jantar o nosso vizinho do beliche, o Filipe, que por acaso era francês, também conhecido do Michel e que fazia o caminho com um amigo chamado Jean Claude, ouviu a nossa conversa e perguntou se podiam juntar-se a nós. Depois de dizer que sim tivemos uma breve conversa onde ele me falou da “Pedronía” que é uma credencial atribuída a quem visita alguns dos locais onde pregou o Apóstolo e onde aportou a barca que transportou o seu corpo no século I (pelos discípulos Teodoro e Atanásio) desde a Palestina (Jaffa) até esta vila de Padrón. Entretanto chegou o Patrick com as duas amigas holandesas e disseram que tinham muito gosto em se juntar a nós e que ajudavam a fazer as compras; combinámos então encontrarmo-nos às 16h em frente ao albergue.
Saí com a Helena para passearmos e comermos alguma coisa; esta minha amiga tinha sempre um bom apetite! Pelo caminho encontrámos a Pia e o Michael a quem falámos do jantar e que se juntaram ao grupo. Mais à frente encontrámos ainda a Ute e o Klaus que fizeram a mesma coisa. Combinámos com estes às 18h30 no albergue.









Tal como combinado encontrámo-nos e fomos às compras para fazer o jantar para 15 pessoas. Foi divertidíssimo. A princípio estava a pensar comprar bacalhau congelado mas para meu grande espanto e gáudio encontrei bacalhau fresco demolhado, um verdadeiro achado; só não encontrei os coentros e usei salsa.
Enquanto fazíamos as compras encontrei um peregrino que já conhecia de vista, o Zeca (brasileiro) e que conversava com os franceses que foram às compras comigo; comecei a falar com ele em português e assim sem mais nem menos disse-me que era espírita e se eu já tinha ouvido falar do Paulo Coelho (não tinha eu ouvido falar de outra coisa!). Disse-lhe que por acaso tinha levado comigo um dos livros dele (O Aleph); foi então que ele contou que depois de chegar a Santiago ia voltar a Lisboa e ia ficar em casa duma amiga que ele julgava ser a suposta sexta mulher  das oito do Paulo Coelho, pois neste livro ele já tinha encontrado cinco. Pensei “socorro, tenho de sair daqui antes que ele pense que eu sou a sétima!”; valeram-me os meus companheiros que me tiraram dali para acabar de fazer as compras.


De regresso ao albergue passamos pela igreja de Santiago para ir buscar a Pedronía e carimbar a credencial.





Enquanto uns preparavam as mesas, outros lavavam a salada, outros preparavam a entrada (queijo fresco, azeitonas, pimentos de Padrón, pepinos e pão) e outros conversavam, eu só tinha que fazer o arroz de bacalhau.



Entretanto chegaram o Zé António e o Toninho que iam preparar o jantar deles e sem estarem à espera se juntaram a nós; ficámos assim no total dezassete. Com o que tinham comprado, o Toninho fez uma entrada de cogumelos, cebolas e pão de forma torrado que ficou de comer e chorar por mais.
Toda a gente gostou do jantar mas acredito que o que realmente todos apreciámos mais foi o convívio e a alegria partilhada.
A dado momento o Michel disse-me que era engraçada a naturalidade e espontaneidade como eu me movimentava na cozinha, quase como se parecesse a mãe deles. Perguntou-me ainda se eu tinha a noção de que tudo aquilo se devia à minha iniciativa, ao que eu respondi que só tinha feito o arroz.

Uma das coisas que me deixou mais sensibilizada foi um abraço que me deu o Michael (o alemão tímido, quase sempre de olhos no chão) e que me pareceu do mesmo tamanho e beleza do Caminho Português.

E quando já no final o Patrick me disse que era extraordinária esta alegria que tenho de viver e que nunca, mas nunca deixasse que nada ma tirasse porque era ela que me fazia brilhar, foi neste momento, rodeada daquelas pessoas tão simples e simpáticas, que encontrei o meu lindo oásis.




1 comentário :

Anónimo disse...

"É fácil apagar as pegadas; difícil, porém, é caminhar sem pisar o chão" - Lao-Tsé.

Pelo que tenho lido deve ter feito a caminhada assim, da maneira mais difícil, sem pisar o chão... Se fez bolhas nos pés, isso é apenas um sinal da humana tangibilidade.

E como hoje é o dia natalício de Fernando Pessoa deixo-lhe este verso que muito provavelmente se adequa à sua personalidade:

"Porque eu sou do tamanho do que vejo. E não do tamanho da minha altura..."

Saudações jacobeias.