sábado, 9 de junho de 2012

Em Caldas de Reis



SOCORRO! Quando chegámos ao albergue por volta das 16h30 já não havia camas disponíveis, estava tudo ocupado! Nós os três a chegarmos e a senhora do albergue (a mais bonita e simpática de todos os albergues pelos quais passei) a chegar também e a dizer que não havia camas nas camaratas mas se quiséssemos podia-se pôr três colchões no hall de entrada. Aceitámos e fomos alvo da inveja dos restantes peregrinos porque nessa noite não iríamos ter direito à cacofonia de “ressonos” como eles. No hall fica também a sala de estar e a cozinha; enquanto fazíamos as camas no chão (eu o Paulo e a Helena) trocávamos impressões sobre a etapa desse dia e o facto da Helena estar pior dos pés. Foi nessa altura que reparei que um senhor que estava sentado a ler se ria sempre que eu falava; virei-me para ele e perguntei-lhe se por acaso era português? Claro que respondeu que sim e que fazia parte de um grupo de dez peregrinos que não tinham tido lugar no dia anterior em Pontevedra e tinham ido para um pavilhão. Para quem não tinha visto nenhum português até ai, duma assentada conheci logo dez!
Depois de tomar banho saímos para dar um passeio; fomos até à Fonte das Burgas (uma fonte natural de água a 43 graus) molhar os pés. À saída do albergue passa-se por uma pequena ponte romana muito bonita e acolhedora. A Helena aproveitou também para ir comprar dedeiras para os pés porque estava a falar em desistir da caminhada mas eu não achava boa ideia. Durante o passeio juntou-se-nos a Pina, o Pier António e o Michel e fomos jantar todos juntos. Conheci outro francês, o Patrick (conhecido do Michel) que estava acompanhado de duas holandesas (a Margaret e a Marion). Perguntou-me onde aprendi a falar tão bem o meu francês com sotaque suíço e quando eu lhe disse que foi em Paris nos cinco anos em que lá estive, ele acrescentou “ alors nous avons ici une petite parisienne” ao que eu respondi “ c’est plutôt une petite portugaise à Paris” e com isto caí-lhe no goto.
Enquanto eles foram andando eu voltei sozinha ao albergue para ir buscar o telemóvel  e foi ai que conheci mais dois portugueses (o Zé António e o Toninho) que vinham de Matosinhos e com quem tive uma conversa agradável e simpática.






Depois disto fui ter com os outros ao restaurantezinho à beira do rio, caro como tudo e onde só se comiam as famosas tapas que me faziam pensar em lapas; saí de lá com a sensação de ter comido de seco. Conversamos bastante e achei o Michel um senhor muito interessante e brincalhão; a dado momento disse-lhe que era engraçada a maneira que ele tinha de transformar uma simples história em algo grande e bonito. Muito admirado perguntou-me como é que eu percebi isso; eu disse-lhe que era porque fazia a mesma coisa. A partir daqui nasceu uma cumplicidade e amizade entre nós, talvez devido a facilidade que tínhamos de comunicar em francês. Apercebi-me também de como o Pier António era atencioso e carinhoso não só com a mulher, mas também comigo e com todos os outros; digo comigo porque eu escolhia sempre ficar sentado ao lado dele.
Durante o jantar lembrei-me como agradecimento a estas quatro pessoas, e uma vez que me falavam muito em bacalhau, de dizer que far-lhes-ia arroz de bacalhau no próximo albergue. Eles aceitaram com entusiasmo. Já era tarde e tivemos de nos despachar porque a porta do albergue fecha às dez horas; foi quando o Pier referiu isto que me lembrei do livro da Alice Vieira “Às dez a porta fecha” e comentei isso com ele.



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