quinta-feira, 27 de junho de 2013

Lindo, Profundo, Intenso...





«A certeza de que dou para o mal, pensava Joana. O que seria então aquela sensação de força contida, pronta para rebentar em violência, aquela sede de empregá-la de olhos fechados, inteira, com a segurança irreflectida de uma fera? Não era no mal apenas que alguém podia respirar sem medo, aceitando o ar e os pulmões? Nem o prazer me daria tanto prazer quanto o mal, pensava ela surpreendida. Sentia dentro de si um animal perfeito, cheio de inconsequências, de egoísmo e vitalidade. Lembrou-se do marido que possivelmente a desconheceria nessa ideia. Tentou relembrar a figura de Otávio. Mal, porém, sentia que ele saíra de casa, ela se transformava, concentrava-se em si mesma e, como se apenas tivesse sido interrompida por ele, continuava lentamente a viver o fio da infância, esquecia-o e movia-se pelos aposentos profundamente só.»

Poucos livros conseguiram fixar de modo tão nítido as reacções mais íntimas de um ser humano, as suas sensações e descobertas, do que este primeiro romance de Clarice Lispector, então ainda uma adolescente.


"- Não sei...
 - «Não sei» não é resposta. Aprenda a encontrar tudo o que existe dentro de voçê.
 - Bom é viver..., balbuciou ela. Mau é...
 - É?...
 - Mau é não viver...
 - Morrer? - Indagou ele.
 - Não, não... - gemeu ela.
 - O quê, então? Diga.
 - Mau é não viver, só isso. Morrer já é outra coisa. Morrer é diferente do bom e do mau."




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