Era tão emocionante ir ao baile em Martim quando eu era adolescente! Esses dias eram sempre esperados com muita ansiedade e entusiasmo por toda a rapaziada que nesse tempo ainda era bastante. Os bailes para festejar as festas do ano eram feitos no largo da capela nova, mas de vez em quando, aos domingos à tarde, eram feitos num armazém qualquer que estivesse disponível.
Como não sei descrever muito bem todas aquelas sensações que sentíamos, vou aproveitar um texto do José Luís Peixoto e copiar um pequeno excerto:
“… Agarrávamos com firmeza o par que nos calhava. Respirávamos fundo o ar trágico, sério, que a música nos oferecia, fechávamos os olhos e começávamos a dançar. Uma dobra de joelho e um passo de dois ou três centímetros, outra dobra de joelho e outro passo de dois ou três centímetros, sempre à volta, como um parafuso em câmara lenta. Ou, em alternativa, sem sair do lugar, apenas as dobras de joelho, uma, outra, outra, etc. Mas essa não era a parte importante. Aquilo que mais contava eram as faces coladas, a pele dos rostos a tocarem-se, era a cabeça dela a encontrar a sua forma exacta na curva entre o ombro e o pescoço, eram os cabelos dela. Aquilo que mais contava eram as mãos dadas, a temperatura das mãos, eram as mãos pousadas sobre o fundo das costas dela, a cintura, ou as mãos dela à volta do pescoço. Aquilo que mais contava, aquilo que contava eram os peitos colados, cada respiração, cada suspiro…”
(do livro Abraço, Passávamos tardes inteiras abraçados, pág. 175)
(do livro Abraço, Passávamos tardes inteiras abraçados, pág. 175)
2 comentários :
Tambem me lembro desses momentos tao deliciosos!! Como éramos inocentes e sonhadoras...
Devem ter sido bons esses momentos! Quem me dera ter lá estado. Parece mesmo que estamos a sonhar...
Enviar um comentário