segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vamos ao baile



Era tão emocionante ir ao baile em Martim quando eu era adolescente! Esses dias eram sempre esperados com muita ansiedade e entusiasmo por toda a rapaziada que nesse tempo ainda era bastante. Os bailes para festejar as festas do ano eram feitos no largo da capela nova, mas de vez em quando, aos domingos à tarde, eram feitos num armazém qualquer que estivesse disponível.
Como não sei descrever muito bem todas aquelas sensações que sentíamos, vou aproveitar um texto do José Luís Peixoto e copiar um pequeno excerto:

“… Agarrávamos com firmeza o par que nos calhava. Respirávamos fundo o ar trágico, sério, que a música nos oferecia, fechávamos os olhos e começávamos a dançar. Uma dobra de joelho e um passo de dois ou três centímetros, outra dobra de joelho e outro passo de dois ou três centímetros, sempre à volta, como um parafuso em câmara lenta. Ou, em alternativa, sem sair do lugar, apenas as dobras de joelho, uma, outra, outra, etc. Mas essa não era a parte importante. Aquilo que mais contava eram as faces coladas, a pele dos rostos a tocarem-se, era a cabeça dela a encontrar a sua forma exacta na curva entre o ombro e o pescoço, eram os cabelos dela. Aquilo que mais contava eram as mãos dadas, a temperatura das mãos, eram as mãos pousadas sobre o fundo das costas dela, a cintura, ou as mãos dela à volta do pescoço. Aquilo que mais contava, aquilo que contava eram os peitos colados, cada respiração, cada suspiro…”

(do livro Abraço, Passávamos tardes inteiras abraçados, pág. 175)






2 comentários :

Sandra disse...

Tambem me lembro desses momentos tao deliciosos!! Como éramos inocentes e sonhadoras...

laura disse...

Devem ter sido bons esses momentos! Quem me dera ter lá estado. Parece mesmo que estamos a sonhar...