Com um sorriso
e uma calma que me são muito habituais nos dias de festa ou quando recebemos
gente para comer no lar, abri a porta do frigorífico e fiquei de boca aberta!
No lugar onde deviam estar os tabuleiros com um empadão de delícias do mar vi
apenas uma dúzia de postas de peixe cozido e um arroz branco, sem graça
nenhuma, para acompanhar. Já a contar com os convidados, havia vinte e duas
pessoas para jantar!
Tinha sido tudo
organizado com quinze dias de antecedência; tinha-se consultado a ementa da
Eurest com finalidade de se aproveitar o que já estivesse programado para esse
dia; suprimiu-se a sopa, optou-se por uma entrada de tostas de orégãos com
tomate frito e manjericão; de seguida o empadão com uma salada de alface,
temperada com coentros, azeite, sal e um pouco de vinagre; para finalizar, a
sobremesa (uns crepes acompanhados de gelado e nutella, de comer e chorar por
mais). Ficou também acordado que no dia do jantar eu me encarregava de comprar
o que fosse necessário.
Fecho o frigorífico
a toda a pressa e corro para o escritório para contar à minha chefe tão
decepcionante descoberta, ao mesmo tempo que penso numa alternativa. A caminho
olho de esguelha para a bancada onde estavam espalhadas as compras que eu tinha
carregado pelas escadas até ao segundo piso; entre elas havia cinco quilos de
tomate cacho, um molho de manjericão fresco, rúcula e coentros para a salada. Tento
imaginar uma maneira de modificar a ementa com aquilo que ali tinha. Uma vez
que ela estava ao telefone, fiz-lhe sinal e por gestos disse-lhe que não havia
empadão! Continuou ao telefone por mais 10 minutos, ao fim dos quais veio ter
comigo, de mãos ao peito, para me dizer que por pouco não lhe deu uma coisinha
má!
Depois de
darmos algumas voltas percebemos que tinha havido confusão entre as ementas
normais (empadão) e as ligeiras (peixe cozido). Em conversa sugeri, então, que
se aproveitasse o peixe para se fazer uma massada, mudando assim a ementa: para
entrada seriam servidas as tostas com sopa, aproveitando-se o tomate e o
manjericão para juntar ao peixe desfiado e à massa. A sobremesa resistiu
heroicamente a tantos percalços, para deleite e proveito de todos.
A massada, que não estava de todo prevista na
ementa, ficou sublime. Correu tudo lindamente. As risadas, o bem-estar e o
contentamento de todos nós foram contagiantes. Foi um sucesso e ainda fui
elogiada por me ter desenrascado tão bem.
1 comentário :
"T'est terrible Muriel"
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