sábado, 5 de outubro de 2013

Este é o tipo de livro que sempre esperamos encontrar, e que raramente encontramos




Neste romance, um jovem judeu polonês escreve um livro sobre o amor e a existência, mas é obrigado a deixá-lo para trás, junto com a paixão que o inspirou, quando a Polónia é tomada pelos nazistas. Décadas depois, o livro reaparece para unir personagens muito diferentes - Leo Gursky, um imigrante em Nova York; Litvinoff, um professor no Chile; Alma Singer, a filha de uma tradutora literária; Isaac Moritz, escritor americano. Em diferentes vozes, cada uma com seu ritmo e sintaxe, 'A história do amor' gira entre ritos de iniciação e acaso.


"Quero dizer isto algures: tentei ser generoso. E no entanto. Houve alturas da minha vida, anos inteiros, em que a raiva levou a melhor sobre mim. A fealdade virou-me do avesso. Havia uma certa satisfação na amargura. Cortejei-a. Vi-a à minha porta e convidei-a a entrar. Estava zangado com o mundo. E o mundo comigo. Estávamos presos num esgar de repugnância mútua. Costumava deixar as portas bater na cara das pessoas. Bufava-me sempre que tinha vontade de me bufar. Acusava os caixas das lojas de me ficarem com o troco, mesmo que tivesse o troco na mão. Até que percebi que estava quase a tornar-me naquele tipo de pessoas que envenenam os pombos. As pessoas atravessavam a rua para me evitar. Era um cancro humano. E para ser sincero, já não estava zangado com ninguém. Há muito tempo que a raiva me abandonara. Tinha-a deixado esquecida num banco de jardim. E no entanto. Já era assim há tanto tempo, não conhecia mais nenhuma maneira de estar na vida. Um dia acordei e disse a mim mesmo: não é demasiado tarde. Os primeiros dias foram estranhos. Tive de treinar o meu sorriso em frente ao espelho. Mas recuperei-o. Foi como se me tivessem tirado um peso de cima. Deixei-me ir, e alguma coisa me deixou ir também."


"Agora que a minha está quase a acabar, posso dizer que a coisa que me surpreendeu mais na vida é a nossa capacidade de mudança. Num dia somos uma pessoa e no dia seguinte dizem-nos que somos um cão. A princípio, é difícil de suportar, mas passado pouco tempo aprendemos a não ver isso como uma perda. Às vezes chega a tornar-se hilariante verificar quão pouco precisamos que se mantenha na mesma para que prossigamos esse esforço a que chamam, à falta de melhor, ser-se humano."





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