domingo, 10 de fevereiro de 2013

"Simplesmente devastador"





“A culpa é das Estrelas” conta a história de Hazel, uma rapariga de 16 anos que nunca conheceu outra situação que não a de doente terminal, que precisa de aparelhos externos para conseguir respirar e que vê a sua vida dar uma reviravolta quando conhece o adolescente Augustus no Grupo de Apoio dos Miúdos com Cancro.

"- Estou apaixonado por ti - disse ele, baixinho.
- Augustus - disse eu.
- Estou mesmo - disse ele. Ele estava a olhar especado para mim e eu conseguia ver-lhe os cantos dos olhos enrugados. - Estou apaixonado por ti e não estou disposto a negar a mim mesmo o simples prazer de dizer as verdades. Estou apaixonado por ti e sei que o amor é apenas um grito no vazio e que o esquecimento é inevitável e que estamos todos condenados e que chegará o dia em que todo o nosso esforço será devolvido ao pó, e eu sei que o Sol irá engolir a única Terra que alguma vez teremos, e eu estou apaixonado por ti."

"E foi então que nos beijámos. A minha mão largou o carrinho de oxigénio e eu estiquei-me para o pescoço dele, e ele puxou-me pela cintura, deixando-me em bicos de pés. Quando os seus lábios semiabertos encontraram os meus, comecei a sentir uma falta de ar que era nova e fascinante. O espaço à nossa volta evaporou-se e, durante um estranho momento, gostei do meu corpo; esta coisa arruinada pelo cancro que eu andava a arrastar há anos pareceu-me subitamente digna de luta, fazendo valer a pena os tubos no peito e os cateteres e a interminável traição corporal dos tumores."

"- Como é que te tornaste tão adulta a ponto de perceber coisas que confundem a tua velha mãe? - perguntou a minha mãe. - Parece que foi ontem que estava a explicar à Hazel de sete anos porque é que o céu era azul. Nessa altura achavas que eu era um génio.
- Porque é que o céu é azul? - perguntei.
- Porque sim - respondeu ela. Ri-me."

"(...) e depois o meu pai disse: - Sabes em que é que acredito? Lembro-me de, na faculdade, estar numa aula de Matemática, uma aula de Matemática espetacular que era dada por uma velhota minúscula. Ela estava a falar das rápidas transformadas de Fourrier e parou a meio da frase para dizer: "Por vezes, parece que o universo quer que reparemos nele."`
»É nisso que acredito. Acredito que o universo quer que reparemos nele. Acho que o universo é improvavelmente preconceituoso em relação à tomada de consciência, que em parte recompensa a inteligência porque o universo aprecia que a sua elegância seja observada. E quem sou eu, a viver no meio da história, para dizer ao universo - ou à observação que faço dele - que é temporário?
- És bastante esperto - disse eu, passado um bocado.
- És bastante boa a dar elogios - respondeu ele."

"E tanta coisa depende, disse eu a Augustus, de um céu azul talhado pelos ramos de árvores em cima. Tanta coisa depende do tubo de gastrotomia transparente que rompia das entranhas do rapaz de lábios azuis. Tanta coisa depende deste observador do universo.
Semiconsciente, ele olhou de relance para mim e balbuciou:
- E dizes tu que não escreves poesia."

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